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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Bento, homem da Caridade Pastoral

O Bispo de Roma é também Pastor Universal, pois nos governa na caridade. O Papa é a cabeça do colégio do Bispos. Seu papel é o de quem mantém a unidade, a fé e a sã doutrina. Entre o colégio apostólico, o próprio Cristo escolheu Pedro e lhe confiou uma missão singular: “Apascenta minhas ovelhas”.

O apóstolo Simão Pedro recebeu uma especial precedência entre os demais, que fez dele a superior autoridade na Igreja primitiva. A Sé na qual ele estava quando recebeu o glorioso martírio tornou-se ponto de referência para a Igreja nascente e seus legítimos sucessores tornaram-se, segundo o mandato do próprio Cristo, os homens que apascentaram o rebanho do Senhor.

Roma é, desde o princípio, um sinal norteador para a vida de fé do povo cristão. O grande Santo Irineu de Lyon (135-202) dela já dizia: “fundada e organizada pelos dois mais gloriosos apóstolos, Pedro e Paulo [...] mercê de sua especial primazia teve de estar em consonância com esta Igreja cada uma das Igrejas, isto é, os crentes de todo o mundo porque nela fora sempre guardada a Tradição dos Apóstolos”. 

Com o passar dos tempos e o evoluir da Igreja tomou-se cada vez mais consciência desta realidade divina do primado de Pedro e de sua solicitude pastoral para com a Igreja em todo o Orbe. O Papa Clemente I, terceiro sucessor de São Pedro como Bispo de Roma, que viveu entre 35d.C e 97d.C., escreveu a célebre carta aos cristãos da diocese de Corinto, com a qual, através de sua autoridade, reestabelecia a paz ameaçada internamente naquela porção do povo de Deus. Trata-se de um documento de grande relevância apologética, porque demonstra que, já naqueles tempos, se entendia que o Papa possuía uma verdadeira e efetiva autoridade sobre os demais bispos e suas dioceses, e não apenas um posição honorífica de precedência. 

Muito se discutiu sobre o papel exercido pelo Bispo de Roma sobre as demais dioceses. Ao longo dos séculos, alguns tomaram posições fortemente favoráveis a isso, como Santo Tomás de Aquino na Idade Média e o Beato John Henry Newmann mais recentemente, e muitos outros posicionaram-se contra a interferência petrina. Todavia, percebe-se que desde o princípio o Papa não é apenas uma figura de honra, mas, um personagem ativo no que tange a fé, a moral e a vida pastoral de toda a Igreja de Cristo.

O alvorecer da modernidade, sobretudo dos meios mediáticos, fez do papa um cidadão não apenas romano, mas, universal. Devemos às inúmeras viagens apostólicas do Beato João Paulo II a compreensão de que o papa é “nosso pai comum”. Bento XVI ao assumir o sólio petrino, recebeu essa carga de seu antecessor, depois de mais de duas décadas do seu profícuo pontificado. Coube a ele dar continuidade aos trabalhos iniciados pelo papa polonês, mas, também de Paulo VI, que muito fez pela imagem do Papa como pastor da Igreja Universal.

Sob Bento XVI recaiu a responsabilidade de levar adiante uma grei que reconhecia no seu ministério a pessoa do Pai e do Pastor. E em nada o Papa deixou a desejar:

Em 2009, durante a semana santa, um terremoto atingiu a cidade italiana de Áquila. A região ficou destruída e o sismo de 6,3 graus na escala Richter vitimou cerca de 300 pessoas. Era sexta-feira santa, quando segundo a tradição e a regra não se celebra nenhum sacramento - muito menos a missa - e o Papa concedeu uma autorização canônica permitindo que lá se celebrasse uma missa de corpo presente, em sufrágio das vítimas, e para tal, enviou seu secretário de Estado, Cardeal Tarcísio Bertone. Era o "antigo inquisidor" furando a regra por uma necessidade pastoral.

Bento se mostrou mais próximo do povo e de suas necessidades dos que seus críticos poderiam imaginar. Quando visitou o Brasil, na sua única viagem Apostólica a Terra de Santa Cruz, em 2007, ele surpreendeu a todos com seu sorriso inocente e um pouco tímido. Na Fazenda da Esperança, a imagem do abraço coletivo correu o mundo. O pastor alemão tinha coração, e ele estava aberto as necessidades dos homens e mulheres de nosso tempo. Rompia-se o véu do "poderoso chefão". 


O papa passou a ser encarado como um pai, um "bom velhinho", que falava firme quando necessário, mas, sabia abrandar o coração para os pobres e pequenos, acolhendo-os como um verdadeiro Pai e Pastor. Sua benevolência e seu carisma iam mais longe do que simples gestos externos, que enchem tabloides e jornalecos de quinta. Sua caridade pastoral revelou-se também na acolhida dos irmãos separados e na fortaleza com os desgarrados. 

Suas iniciativas contra os padres que cometeram pedofilia e suas lágrimas, durante a visita Apostólica a ilha de Malta em 2010, comoveram o mundo. O papa se fez próximo e solidário com as vítimas, assumindo a dor delas e tomando para si a vergonha dos criminosos. 

Por outro lado, acolheu os antigos Anglicanos, desgostosos das reformas empregadas naquela comunidade eclesial, separada de Roma no século XVI quando da iniciativa do Rei inglês, Henrique VIII, de fundar uma "Igreja estatal" que não contrariasse seu novo casamento com Ana Bolena, em detrimento de Catarina de Aragão. Desde 2009 centenas de "ex-anglicanos" vem sendo acolhidos em ordinariatos pessoais, que lhes permitem voltar a comunhão plena com a Santa Sé. A Constituição Apostólica Anglicanorum Coetibus norteia os tramites de acolhida e estruturação desta nova realidade pastoral.

Outros que devem e muito à Bento são os lefevristas. É sabido que o próprio Papa, depois de ter levantado a excomunhão dos quatro ordenados de 1988, filhos da Sociedade Sacerdotal São Pio X, criada pelo Bispo espiritano Marcel Lefrebve, tentou com esforços reais fazer com que o grupo voltasse a comunhão. A Comissão Ecclesia Dei, criada ainda pelo beato João Paulo II, teve muito trabalho e noites intensas de insônia para realizar o diálogo. O Arcebispo Guido Pozzo, responsável pelos diálogos tentou, mas, a discussão segue empacada.

O Papa agiu como um verdadeiro um Pastoralista. O seu Motu Proprio Summorum Pontificum, de julho de 2007, que legislava sobre a forma extraordinário do Rito Romano, ou seja, a Missa de São Pio V, revelou ao mundo que Bento XVI estava disposto a acolher a todos. Houve quem julgou que o Pontífice estava privilegiando os ditos "tradicionalistas e tradicionais". Já o sínodo sobre a África, em meados de 2009, encerrou a discussão sobre as  possibilidades de inculturação do Papa alemão. Ao final da Santa Missa, na Basílica de São Pedro, após a execução do hino mariano Ave Regina Caelorum, africanos cantaram, ao som de instrumentos típicos, uma saudação a Maria Santíssima, enquanto o papa deixava o altar da confissão.

De todos os lados o Bispo de Roma exerceu sua solicitude pastoral para com todos os povos. Nas três jornadas mundiais da juventude que participou como Papa, ele se mostrou próximo dos jovens. Em 2011, em meio a chuva torrencial que caiu sobre Madrid, tentaram tira-lo do palco montado para seu discurso durante a vigília, mas, Bento disse: "se eles ficam aqui, eu permaneço com eles".



O Doce Cristo na terra nos deixou um verdadeiro legado de amor a Jesus Cristo, sua Igreja e todo seu povo. Ensinou-nos como devemos dar a vida em favor das ovelhas, nos tempos modernos. Bento, um verdadeiro pai e pastor de almas. 


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