Páginas

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

RARA ENTREVISTA DE MONSENHOR GUIDO MARINI


O Papa, da 'loggia' central da Basílica Vaticana, no dia de Natal, para a bênção Urbi et Orbi

Assim o acompanharam centena de milhões de pessoas de toda parte do mundo. Uma escolha ditada pela sobriedade e essencialidade? Não, simplesmente uma busca de ordem, de limpeza, também nos paramentos, na era da globalização midiática. Bento XVI observa também estes particulares, atento para não causar confusões, sobretudo para não diluir o mistério ou as celebrações dos sacramentos no processador das imagens. Mas é sobre a liturgia que a atenção do Papa se detém particularmente. Bastava seguir, apenas poucas horas antes, o rito solene da missa da noite de Natal para se dar conta. A “Kalenda”, ao término da vigília e antes da liturgia; os longos silêncios; a genuflexão dos fiéis que recebiam a comunhão; o crucifixo no centro do altar e os castiçais, belos mas talvez obstáculos para a transmissão televisiva, a homenagem floral das crianças depositada ao término da missa.

E as modificações não acabam aqui. Nesta virada sutil tem a seu lado um monsenhor jovem (43 anos) e “sutil” como Guido Marini, laureado em direito canônico. Há quatorze meses é o mestre das celebrações litúrgicas pontifícias. Substituiu o bispo Piero Marini, que esteve durante anos ao lado de João Paulo II. Sacerdote genovês modesto, um pouco tímido, mas com as idéias claras e distintas. Um homem piedoso, doce e com um sorriso cativante que o torna imediatamente simpático. Esta é uma de suas primeiras, raras, entrevistas.


Monsenhor Guido Marini, Mestre de Cerimônias do Santo Padre

Mons. Guido Marini, quem foram os seus mestres?

“Quando ingressei no seminário era arcebispo o Cardeal Giuseppe Siri. Fui ordenado sacerdote pelo Cardeal Canestri. Sete anos como secretário de Canestri e sete com o Cardeal Dionigi Tettamanzi. O Cardeal Tarcísio Bertone me nomeou responsável pelo ofício das escolas da arquidiocese, diretor espiritual no seminário onde ensinava direito canônico. Depois chanceler da cúria e prefeito responsável pela catedral. Com o Cardeal Tettamanzi dei os primeiros passos como cerimoniário”.

“Liturgia, cume da vida da Igreja, tempo e lugar da relação profunda com Deus”, como diz Bento XVI. De onde lhe veio este amor pela liturgia?

“Foi um amor juvenil no sentido que minha vocação tem as suas raízes na liturgia; o amor pelo Senhor foi também um amor pela liturgia como lugar do encontro com o Senhor. Em Gênova sempre houve um importante movimento litúrgico”.

Suponho que tenha sido o Cardeal Tarcisio Bertone, tornado Secretário de Estado da Santa Sé, que propôs o seu nome a Bento XVI.

“Sim, a proposta me chegou através do Cardeal Bertone. ‘O Papa – me disse – está pensando no teu nome’”.

Com o Papa bávaro, estamos assistindo a uma operação de mudança do estilo litúrgico ou a alguma coisa mais profunda?

“É alguma coisa de mais profundo na linha da continuidade, não da ruptura. Há um desenvolvimento no respeito à tradição”.

Desde sua chegada as mudanças ou correções começaram. Algumas imperceptíveis, outras mais vistosas.

“A mudança é diversificada. Uma foi a colocação do crucifixo no centro do altar para indicar que o celebrante e a assembléia dos fiéis não se olham mutuamente, mas juntos olham para o Senhor que é o centro da sua oração. Outro aspecto é a comunhão dada aos fiéis de joelhos pelo Santo Padre e distribuída na boca. Isto para evidenciar a dimensão do mistério, a presença viva de Jesus na Santíssima Eucaristia. Também a atitude e a postura são importantes porque favorecem a adoração e a devoção dos fiéis”.

O Papa Bento é o primeiro Papa que não tem a tiara no seu escudo. Mudou o pálio do início de seu ministério apostólico e abandonou o característico báculo, do artista Scorzelli, dada pelos milaneses a Paulo VI. Aquele báculo em forma de cruz foi usado também pelo Papa Luciani e por João Paulo II. O Papa Ratzinger escolheu uma férula. Uma simples cruz.

“Como o snhor disse, o báculo papal é a férula, a cruz sem o crucifixo, dando a esta um uso mais costumeiro e habitual, e não apenas extraordinário. Ao lado de tais considerações se impôs uma questão prática: um báculo o mais rapidamente, e o encontrámos na sacristia papal”.

Já acenamos para a introdução do silêncio na missa. Em Roma, no centro da cristandade, as liturgias aparecem na sua esplêndida solenidade. E a língua de Cícero, o latim, supera todas. Depois se pensa em antecipar o sinal de paz e numa saudação final diferente por parte do celebrante. A intenção é recuperar plenamente o caráter não arbitrário do culto. A criatividade e espontaneidade como uma ameaça.

“Não serei tão drástico e nem mesmo me agrada a expressão, usada por alguns, ‘saneamento litúrgico’. É um desenvolvimento que valoriza ulteriormente aquilo que fez egregiamente e por tantos anos, como mestre das celebrações litúrgicas pontifícias, o meu predecessor, o bispo Piero Marini. As questões que o senhor destaca acerca do deslocamento do sinal de paz ou outras não competem ao meu ofício mas sim à Congregação para o Culto Divino e ao novo prefeito, o Cardeal Antônio Cañizares. É meu dever empenhar-me para realizar de modo exemplar a unidade e a catolicidade da todos aqueles que participam das celebrações da Santa Missa papal”.

Quando veremos o Papa Bento celebrar a missa em latim segundo o rito romano extraordinário, o de São Pio V? Eu, pessoalmente, interpretei o ‘motu proprio’ como um ato de liberalidade, de abertura, não de fechamento.

“Não sei. Muitos fiéis aventam esta possibilidade. O Papa decidirá, se o julgar oportuno”.

Na “Exortação Apostólica” pós-sinodal sobre a liturgia, Joseph Ratzinger se deteve sobre muitos aspectos. Propôs até que as igrejas sejam voltadas para o oriente, para a Cidade Santa de Jerusalém. Ele, faz um ano, celebrou a missa na Capela Sistina com de costas para o povo. Quem lhe propôs?

“Eu lhe propus. A Capela Sistina é um baú de tesouros. Parecia uma violência alterar-lhe a beleza construindo um palco artificial, postiço. No rito ordinário, este modo de celebrar “de costas para o povo” é uma modalidade prevista. Porém sublinho: não dá as costas ao povo, mas sim celebrante e fiéis estão voltados para o único ponto que conta que é o crucifixo”.

“O Papa veste Cristo, não Prada” se leu no “L’Osservatore Romano”. O ‘look’ de Bento XVI impressiona e intriga. Paramentos, mitras, cruzes peitorais, cátedras sobre as quais se senta, mozetas e estolas. Estamos diante de um Papa elegante. É uma invenção jornalística?

“Simplesmente dizer ‘elegante’, na linguagem de hoje, pareceria significar um Papa que ama aspectos exteriores, mundanos. Um olhar atento adverte que há uma busca que concilia tradição e modernidade. Não é a lógica de um impraticável retorno ao passado más é um reequilíbrio entre passado e presente. É a busca, se prefere, de beleza e harmonia, que são revelação do mistério de Deus”.

O que veremos nos Camarões e em Angola? As liturgias africanas são pitorescas, populares, onde existe uma totalidade que se exprime inclusive com a dança e os tambores. O senhor será posto à prova...

(Risos) “Só agora estamos preparando a viagem. Procuraremos pôr junto com as tradições locais aquilo que vale para todas. Com sua simples presença o Papa manifesta a Igreja, uma, santa, católica. Acharemos a síntese entre aquilo que une a Igreja, no rito romano, e os aspectos típicos e sensibilidades culturais. Inculturação da fé e da liturgia e dimensões universais”.

A liturgia é um sedimento, um patrimônio milenar. O missal é entrecortado de citações da Bíblia aos Padres da Igreja do Oriente e do Ocidente. Salmos responsoriais, orações ou coletas, o sacramentário que é a parte central da missa. É um patrimônio intocável. Cada vez que há uma celebração o senhor consulta o Papa? Que tipo de comunicação há?

“Muito simples. O Papa é consultado nas coisas relevantes e antes de uma celebração tem todos os textos. Ordinariamente, lhe enviamos notas escritas e ele responde por escrito, de seu punho”.

O senhor está fazendo uma experiência forte e extraordinária. Episódios que lhe tocaram?

“Sim,é uma experiência forte. Tocou-me a viagem do Papa aos Estados Unidos. Sendo minha primeira viagem internacional com o Santo Padre, havia um sabor de novidade. Uma viagem emocionante pelo afeto e o calor, pelo clima espiritual. E me tocou a entrega do pálio, em junho, aos metropolitas. Um metropolita dirigiu-se assim ao Papa, de joelhos: ‘Padre Santo, venho de uma diocese em que o meu predecessor sofreu o martírio pela fé. Reza por mim para que também eu possa ser um mártir’. Compreendi ainda mais o que significa ser Igreja”.

Há grande sintonia, feeling, entre o senhor e o Papa?

“Da minha parte é absoluta.”

Como definiria o Papa Bento XVI, o senhor que tem a fortuna de estar a seu lado?

“Une a uma excepcional grandeza intelectual uma enorme simplicidade e doçura. É um traço característico de sua figura espiritual e humana. É uma realidade que verifico e toco com as mãos. O fato de estar próximo do Papa, deste Papa, é uma grande graça para o meu sacerdócio”.


O Mestre dos Cerimoniários Pontifícios, Monsenhor Enrico Dante



Todos os admiradores da liturgia papal anterior ao Vaticano II podem perceber o onipresente Monsenhor Enrico Dante ao lados dos Sumos Pontífices, de Bento XV a Paulo VI.

De porte hierático, muito alto e magro, o Cerimoniário destacava-se, até mesmo ao lado do grande Papa Pio XII, último dos Príncipes de Deus. Numa época em que o Santo Padre celebrava poucas vezes a complexa Missa Papal, o Monsenhor Dante sabia coordenar impecavelmente o longuíssimo e elaborado ritual, no qual todos os integrantes da Corte Pontíficia tinham o seu exato papel: Cardeais Diáconos assistentes ao Trono (em dalmática e mitra ou de capa magna com a cauda dobrada ao braço, por estarem servindo em presença do Sumo Pontífice, camareiros eclesiásticos em hábito paonazzo ministrantes da Tiara, da Mitra e da falda, diáconos e subdiáconos dos ritos latino e grego, príncipes assistentes ao sólio pontifício, guarda nobre e camareiros de capa e espada.

Enrico Dante nasceu na cidade de Roma, a 5 de julho de 1884, onde veio a falecer, no dia 24 de abril de 1967. Era filho de Achille Dante e de Zenaide Ingegni. Tinha apenas 8 anos quando ficou órfão de mãe, juntamente com mais duas irmãs e um irmão, que mais tarde veio como missionário para o Brasil.

Após fazer os estudos secundários com os Padres de Sion, em Paris, ingressou no Colégio Capranica, na cidade de Roma, em 1901. Doutorou-se em Filosofia, Teologia, Cânones e Direito Civil, na Pontifícia Universidade Gregoriana, passando a advogar na Sacra Rota Romana.
Foi ordenado sacerdote a 3 de julho de 1910, na Igreja de Santo Apolinário, em Roma, por Dom Giuseppe Ceppetelli, Patriarca Latino de Constantinopla. De 1911 a 1928, Enrico Dante lecionou Filosofia no Pontifício Ateneu Urbaniano “De Propaganda Fide”; de 1928 a 1947, passou a reger, também, a cadeira de Teologia. Em 1913, ingressou como oficial da Sagrada Penitenciária Apostólica.

No dia 25 de março de 1914, foi admitido como membro da Pontifícia Academia de Cerimônias. O Santo Padre Pio XI confiou-lhe a reabertura da Nunciatura Apostólica de Paris, em 1923, ao que ele declinou, por ter duas irmãs em Roma que necessitavam dele, por serem órfãs. Continuou suas atividades na Cidade Eterna, sendo nomeado pelo Pai da Cristandade como suplente na Sagrada Congregação para os Ritos, a 26 de outubro daquele ano, passando a substituto a 28 de setembro de 1930.

Elevado à dignidade de Prelado Doméstico de Sua Santidade, a 15 de maio de 1943, e, a 27 seguinte, feito sub-secretário da S. C. Cerimonial. A 13 de junho de 1947, foi elevado a Prefeito das Cerimônias Pontifícias. O ponto alto de sua atuação foi no Ano Santo de 1950, estando sempre ao lado do Papa Pacelli. Em reconhecimento à sua atuação e dedicação à Casa Pontifícia, João XXIII o fez pró-secretário da Sagrada Congregação dos Ritos, a 24 de janeiro de 1959, passando a secretário a 5 de janeiro de 1960.

Exerceu o ministério pastoral, na Diocese de Roma, em Torre Nova e na Basílica Patriarcal de Latrão. Em Santa Maria em Monte, na Piazza del Popolo, foi decano do Cabido. Por mais de 40 anos, ouviu confissões na Igreja do Sacro Cuore al Suffragio, em Roma. Ao mesmo tempo, encontrava oportunidade para práticas esportivas, sendo um atleta entusiasta, que ajudou a fundar o Roma, time de futebol, além de praticar alpinismo.

Como cerimoniário da Casa Pontifícia, participou dos Conclaves de 1914, 1922, 1939, 1958 e 1963, atuando nas cerimônias de coroação dos papas Bento XV, Pio XI, Pio XII, João XXIII e Paulo VI. Enrico Dante foi o primeiro mestre de cerimônias papal a ajudar o Sumo Pontífice numa sagração de um bispo no Rito Bizantino, a do futuro cardeal Gabriel Acacius Coussa, OSBA.
Em 28 de agosto de 1962, foi eleito arcebispo titular de Carpasia, sendo sagrado a 21 de setembro seguinte, pelo Beato João XXIII, na Basílica Lateranense, sendo co-sagrantes o Arcebispo Titular de Sardica, assessor da Sagrada Congregação Consistorial, Dom Francesco Carpino, e o Arcebispo Titular de Teolemaide di Tebaide, assessor do Supremo Santo Ofício, Dom Pietro Parente. Na mesma cerimônia, foram sagrados, também, os futuros cardeais Cesare Zerba, Pietro Palazzini, e Paul-Pierre Philippe – OP.

Participou de todas a ssessões do Concílio Vaticano II (1962-1965), inclusive fazendo parte de comissões. Entretanto, a partir da segunda sessão, tendo em vista a destruidora tempestade que se anunciava, tornou-se um determinado opositor daqueles que queriam simplesmente arrasar com toda a bimilenária história de fé da Igreja Católica, para construir algo novo sobre os escombros da antiga.

O Papa Paulo VI elevou-o a Cardeal Presbítero da Santa Igreja, no Consistório de 22 de fevereiro de 1965, com o título de Santa Ágata dos Godos, em Roma. A tristeza, porém, já era percebida no seu semblante, pois tudo o que amara ardorosamente por toda a sua vida estava prestes a ruir. O seu consistório foi, aliás, o último no qual o galero cardinalício foi entregue aos novos purpurados.

Com idade avançada, adoeceu gravemente, sendo internado no Policlínico Gemelli, onde recebeu a visita do Papa Paulo VI, no dia 6 de abril de 1967.

Faleceu confortado pelos Sacramentos daquela a quem dedicou toda a sua vida, no dia 24 de abril de 1967. Após solenes exéquias, seu corpo foi enterrado na Igreja de Santa Ágata dos Godos, em uma simples gaveta mortuária, na Cripta. Em sua memória, A. Fanttinnanzi ergueu-lhe um monumento no mesmo templo.

Fala-se nos dias atuais, sobre a possibilidade do Sumo Pontífice celebrar uma Missa Papal utilizando-se do antigo ritual. Algumas dificuldades de ordem prática surgem, principalmente em razão da extinção de muitos cargos da antiga Corte Papal. Mas, como o que parecia impossível tornou-se possível, através do Motu Proprio Sumorum Pontificum, e aos poucos a Santa Missa volta a ser celebrada no antigo rito de S.Pio V, principalmente em razão do interesse demonstrado por jovens sacerdotes e seminaristas, fascinados com a sacralidade e santidade do antigo rito, esperamos sim, com grande expectativa, pelo dia em que teremos a alegria de assistir ao inesquível ritual de uma Missa Papal tradicional e, com certeza, lá no Céu, o Monsenhor Enrico Dante estará vibrando e aplaudindo.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Santa Inês



Oração a Santa Inês

Oh! Gloriosa Santa Inês, que ainda na mais tenra infância já sabíeis fazer de Vós mesma uma oferta agradável ao Senhor, intercedei por nós junto do vosso divino Esposo, Jesus, Cordeiro imaculado, da Tradição da Igreja, que segurais convosco, e suplicai-lhe que torne os nossos corações humildes, castos, caritativos, obedientes e abrasados de Santo Amor. Esperamos e confiamos, nossa Amada Protetora, não tornar a retirá-los mais de nossas mão; adornai-os pois, com as virtudes do Vosso coração, tão casto e fervoroso e salvai-os das seduções do mundo: intercedei, igualmente, por nós, junto ao trono da Virgem Imaculada, para que ela, por amor de Vós, nos dispense o Seu amor e nos torne dignos filhos, para um dia cantar conosco os Seus louvores.

Amém.

São Pio V

Brasão Papal de São Pio V


Pio V nasceu em 1504 em Bosco, Itália, de nobre família Ghislieri. No santo Batismo deram ao filho o nome de Miguel. Menino ainda, deu Miguel indício de vocação sacerdotal, distinguindo-se sempre por uma piedade pouco vulgar.

Seguindo a sua inclinação, entrou na Ordem de S. Domingos, na qual ocupou diversos cargos de Superior. Igualmente distinto em santidade como em ciência, foi Miguel nomeado inquisidor, cargo este que desempenhou com grande competência. Muitas cidades e regiões inteiras lhe devem terem ficado livres da peste de heresia.

Reconhecendo-lhe o valor e os grandes méritos, o Papa Pio IV conferiu-lhe a dignidade de Bispo e Cardeal da Igreja Católica. O conclave, reunido por ocasião da morte de Pio IV, elevou-o ao pontificado.

Como Papa, desenvolveu Pio V uma atividade admirável, para o bem da Igreja de Deus sobre a terra. Foi um pontificado dos mais abençoados. Exemplaríssimo na vida particular, ardente de zelo pela glória de Deus e a salvação das almas, possuía Pio V as qualidades necessárias de um grande reformador. É impossível resumir em poucas linhas o que este grande Papa fez, pela defesa da verdadeira fé, pela exterminação das heresias e pela reforma dos bons costumes na Igreja toda. Incansável mostrou-se em restabelecer a disciplina eclesiástica, em defender os direitos da Santa Sé, em remover escândalos, erros e heresias, em particular a causa dos oprimidos e necessitados. Cumpridor consciencioso do dever, não se fiava na palavra de outros, quando se tratava do governo de Igreja ou da disciplina. Ele mesmo, em pessoa se informava, queria ver, ouvir para depois formar opinião própria e resolver os casos em questão. De máximo rigor usava contra a imoralidade pública; prostitutas queria ele que fossem enterradas, não no cemitério, mas no esterquilínio. Deu leis severas contra o jogo e proibiu as touradas, como contrárias à piedade cristã. Em 1566 publicou o “Catecismo Romano”, obra importantíssima sobre a doutrina católica. Deve-lhe a Igreja também a organização oficial e definitiva do Breviário e do Missal.

(Ordinário da Santa Missa - São Pio V)

Não só mandou embaixadores a todas as cortes cristãs européias, mas, por sua ordem, muitos homens percorreram a França, os Países Baixos, a Alemanha e a Inglaterra em defesa da fé católica, que seriamente periclitava, principalmente naqueles países.

Infelizmente sua campanha contra Isabel, rainha da Inglaterra, cuja destronização chegou a decretar sem podê-la tornar efetiva, causou muitos sofrimentos e perseguições aos católicas ingleses. A Companhia de Jesus, cuja fundação é contemporânea desse pontificado, achou em Pio V um grande protetor.


Ameaçava grande perigo à Igreja, como à Europa toda, da parte dos turcos, cujo imperador jurara exterminar a religião cristã. Pio V envidou todos os esforços, fez valer toda sua influência junto aos príncipes cristãos para conjurar essa desgraça iminente. Para obter de Deus que abençoasse as armas cristãs, ordenou que se fizessem, em toda a parte da cristandade, preces públicas, particularmente o terço, procissões, penitência. Paralelamente, em 1570, os otomanos, de notável poderio militar, apoderaram-se do Santo Sepulcro em Jerusalém e não permitiam a visita dos cristãos. O próprio Papa, em pessoa, tomou parte nesses exercícios extraordinários, impostos pela extrema necessidade. Organizou uma Cruzada, cujo comando entregou a Dom João da Áustria, que era irmão de Carlos V, Imperador do Sacro Império Romano. Aconteceu a Batalha Naval no Golfo de Lepanto. A armada turca, com poderio militar que ultrapassava o dobro dos navios dos cruzados, incidiu ferozmente para destruir os cristãos. Os chefes cruzados ajoelharam e suplicaram a intercessão de Nossa Senhora. Por intercessão de Maria Santíssima, foram inspirados pelo Espírito Santo a rezar o Terço como única forma de enfrentar e vencer o inimigo e assim o fizeram. O êxito foi glorioso. A vitória dos cristãos em Lepanto (1571) foi completa. As festas de Nossa Senhora da Vitória e do SS. Rosário perpetuam até hoje a memória daquele célebre fato. No momento em que a batalha se decidia a favor dos cristãos, teve o Papa, por revelação divina, conhecimento da vitória e imediatamente convidou as pessoas presentes a dar graças a Deus. Era seu plano organizar uma nova campanha contra os turcos, mas uma doença dolorosa não lho permitiu pô-la em execução. A doença era o prenúncio da morte, para a qual Pio se preparou com o maior cuidado. Quando as dores ( causadas por cálculos renais) chegavam ao auge, exclamava o doente: “Senhor ! aumentai a dor e dai-me paciência !”. Mandou que lhe lessem trechos da Sagrada Paixão e Morte de Nosso Senhor, e continuamente se confortava com a citação de versos bíblicos e jaculatórias, até que a morte lhe pôs termo à vida, tão rica em trabalhos, sofrimentos e glórias. Antes, porém, havia instituído, como agradecimento pela vitória em Lepanto, a festa de Nossa Senhora das Vitórias. (Dois anos mais tarde, o Papa Gregório XIII, seu sucessor, lembrando que a vitória de Lepanto foi mais uma vitória do Rosário, mudou o nome da festa para Nossa Senhora do Rosário.)


Pio V morreu em 15 de maio de 1572, tendo seu pontificado durado seis anos e três meses. Não há virtude que este grande Papa não tenha exercitado. Todos os dias celebrava ou ouvia a Santa Missa, com o maior recolhimento. Terníssima devoção tinha a Jesus Crucificado. Todas as orações fazia aos pés do Crucificado, os quais inúmeras vezes beijava.

Certa vez que ia beijá-los, conforme o costume, a imagem retirou-se, salvando-o assim de morte certa. Pessoa má tinha-os coberto de um pó levíssimo e venenoso. Numa quinta-feira Santa, quando realizava a cerimônia do “Mandatum”, entre os doze pobres havia um, cujos pés apresentavam uma úlcera asquerosa. Pio, reprimindo uma natural repugnância, beijou a ferida com muita ternura. Um fidalgo inglês, que viu este ato, ficou tão comovido, que, no mesmo dia, se converteu à Igreja Católica.

Pio era tão amigo da oração, que os turcos afirmaram ter mais medo da oração do Papa, do que dos exércitos de todos os príncipes unidos. À oração unia rigor contra si mesmo: a vida era-lhe de penitência contínua. ‘Três vezes somente por semana comia carne e ainda assim em quantidade diminutíssima.

Grande amor mostrava aos pobres e doentes. Entre os pobres, gozavam de preferência os neófitos. Pouco aproveitavam os parentes. Quando, em certa ocasião, alguém lhe lembrou de subvencionar mais os parentes, Pio respondeu: “Deus fez-me Papa para cuidar da Igreja e não de meus parentes”.

Seguindo o exemplo do divino Mestre, perdoava de boa vontade aos inimigos e ofensores. Nunca se lhe ouviu da boca uma palavra áspera.

Pio empregava bem o tempo. Era amigo do trabalho e todo o tempo que sobrava da oração, pertencia às ocupações do alto cargo. Alguém lhe aconselhara que poupasse mais a saúde, e tomasse mais descanso. Pio respondeu-lhe: “Deus deu-me este cargo, não para que vivesse segundo a minha comodidade, mas para que trabalhasse para o bem dos meus súditos. Quem é governador da Igreja, deve atender mais às exigências da consciência que às do corpo”.

Pio V foi canonizado por Clemente XI. O corpo descansa na Igreja de Santa Maria Maggiore.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

URBI ET ORBI - 2008

Feliz Natal para todos, e que a Luz de Cristo Salvador ilumine os vossos corações de paz e de esperança!
(SS.P. Bento XVI, em português URBI ET ORBI)

MENSAGEM URBI ET ORBI
DE SUA SANTIDADE
BENTO XVI
Santo Natal, 25 de Dezembro de 2008
«Apparuit gratia Dei Salvatoris nostri omnibus hominibus» (Tt 2, 11).

Amados irmãos e irmãs, com as palavras do apóstolo Paulo renovo o jubiloso anúncio do Natal de Cristo: sim, hoje, «manifestou-se a todos os homens a graça de Deus, nosso Salvador»!

Manifestou-se! Isto é o que a Igreja hoje celebra. A graça de Deus, rica em bondade e ternura, já não está escondida, mas «manifestou-se», manifestou-se na carne, mostrou o seu rosto. Onde? Em Belém. Quando? Sob César Augusto, durante o primeiro recenseamento a que alude também o evangelista Lucas. E quem é o revelador? Um recém-nascido, o Filho da Virgem Maria. N’Ele manifestou-se a graça de Deus, Salvador nosso. Por isso, aquele Menino chama-Se Jehoshua, Jesus, que significa «Deus salva».

A graça de Deus manifestou-se: eis o motivo por que o Natal é festa de luz. Não uma luz total, como aquela que envolve todas as coisas em pleno dia, mas um clarão que se acende na noite e se difunde a partir de um ponto concreto do universo: da gruta de Belém, onde o Deus Menino «veio à luz». Na realidade, é Ele a própria luz que se propaga, como aparece bem representado em muitos quadros da Natividade. Ele é a luz, que, ao manifestar-se, rompe a bruma, dissipa as trevas e nos permite compreender o sentido e o valor da nossa existência e da história. Cada presépio é um convite simples e eloquente a abrir o coração e a mente ao mistério da vida. É um encontro com a Vida imortal, que Se fez mortal na mística cena do Natal; uma cena que podemos admirar também aqui, nesta Praça, tal como em inumeráveis igrejas e capelas do mundo inteiro e em toda a casa onde é adorado o nome de Jesus.

A graça de Deus manifestou-se a todos os homens. Sim, Jesus, o rosto do próprio Deus-que-salva, não Se manifestou somente para poucos, para alguns, mas para todos. É verdade que, no casebre humilde e pobre de Belém, poucas pessoas O encontraram, mas Ele veio para todos: judeus e pagãos, ricos e pobres, de perto e de longe, crentes e não crentes… todos. A graça sobrenatural, por vontade de Deus, destina-se a toda a criatura. Mas é preciso que o ser humano a acolha, pronuncie o seu «sim», como Maria, para o coração seja iluminado por um raio daquela luz divina. Os que acolheram o Verbo encarnado, naquela noite, foram Maria e José, que O esperavam com amor, e os pastores, que vigiavam durante a noite (cf. Lc 2, 1-20). Foi, portanto, uma pequena comunidade que acorreu a adorar Jesus Menino; uma pequena comunidade que representa a Igreja e todos os homens de boa vontade. Também hoje, aqueles que na vida O esperam e procuram, encontram Deus que por amor Se fez nosso irmão; quantos têm o coração voltado para Ele, desejam conhecer o seu rosto e contribuir para instaurar o seu reino. Di-lo-á o próprio Jesus na sua pregação: são os pobres em espírito, os aflitos, os mansos, os famintos de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os obreiros da paz, os perseguidos por causa da justiça (cf. Mt 5, 3-10). Estes reconhecem em Jesus o rosto de Deus e regressam, como os pastores de Belém, renovados no coração pela alegria do seu amor.

Irmãos e irmãs que me escutais, a todos os homens se destina o anúncio de esperança que constitui o coração da mensagem de Natal. Para todos nasceu Jesus e, como em Belém Maria O ofereceu aos pastores, neste dia a Igreja apresenta-O à humanidade inteira, para que toda a pessoa e cada situação humana possa experimentar a força da graça salvadora de Deus, a única que pode transformar o mal em bem, a única que pode mudar o coração do homem e torná-lo um «oásis» de paz.

Possam experimentar a força da graça salvadora de Deus as numerosas populações que vivem ainda nas trevas e nas sombras da morte (cf. Lc 1, 79). Que a Luz divina de Belém se difunde pela Terra Santa, onde o horizonte parece tornar-se a fazer escuro para os israelitas e os palestinianos, difunda-se pelo Líbano, o Iraque e todo o Médio Oriente. Torne fecundos os esforços de quantos não se resignam com a lógica perversa do conflito e da violência e privilegiam pelo contrário o caminho do diálogo e das negociações para se harmonizar as tensões internas nos diversos Países e encontras soluções justas e duradouras para os conflitos que atormentam a região. Por esta Luz que transforma e renova, anelam os habitantes do Zimbábue, em África, oprimidos há demasiado tempo por uma crise política e social que, infelizmente, continua a agravar-se, coma também os homens e as mulheres da República Democrática do Congo, especialmente na martirizada região do Kivu, do Darfour, no Sudão, e da Somália, cujos infindáveis sofrimentos são uma trágica consequência da falta de estabilidade e de paz. Por esta Luz esperam sobretudo as crianças dos países referidos e de todo os outros em dificuldade, a fim de que seja devolvida a esperança ao seu futuro.

Onde a dignidade e os direitos da pessoa humana são espezinhados; onde os egoísmos pessoais ou de grupo prevalecem sobre o bem comum; onde se corre o risco de habituar-se ao ódio fratricida a à exploração do homem pelo homem; onde lutas internas dividem grupos e etnias e dilaceram a convivência; onde o terrorismo continua a percutir; onde falta o necessário para sobreviver; onde se olha com apreensão para um futuro que se vai tornando cada vez mais incerto, mesmo nas Nações do bem-estar: lá resplandeça a Luz do Natal e encoraje todos a fazerem a própria parte, com espírito de autêntica solidariedade. Se cada um pensar só nos próprios interesses, o mundo não poderá senão caminhar para a ruína.

Amados irmãos e irmãs, hoje «manifestou-se a graça de Deus Salvador» (cf. Tt 2, 11), neste nosso mundo, com as suas potencialidades e as suas debilidades, os seus progressos e as suas crises, com as suas esperanças e as suas angústias. Hoje refulge a luz de Jesus Cristo, Filho do Altíssimo e filho da Virgem Maria: «Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro. Por nós, homens, e para nossa salvação desceu dos Céus». Adoramo-Lo hoje, em cada ângulo da terra, envolvido em faixas e reclinado numa pobre manjedoura. Adoramo-Lo em silêncio enquanto Ele, ainda infante, parece dizer-nos para nossa consolação: não tenhais medo, «Eu sou Deus e não há outro» (Is 45, 22). Vinde a Mim, homens e mulheres, povos e nações. Vinde a Mim, não temais! Vim trazer-vos o amor do Pai, mostrar-vos o caminho da paz.

Vamos, pois, irmãos! Apressemo-nos, como os pastores na noite de Belém. Deus veio ao nosso encontro e mostrou-nos o seu rosto, rico em misericórdia! A sua graça não seja vã para nós! Procuremos Jesus, deixemo-nos atrair pela sua luz, que dissipa a tristeza e o medo do coração do homem; aproximemo-nos com confiança; com humildade, prostremo-nos para O adorar. Feliz Natal para todos!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Natal: Papai Noel: São Nicolau

O personagem Papai Noel foi inspirado em São Nicolau Taumaturgo, Arcebispo de Mira, no século IV.

São Nicolau costumava ajudar, anonimamente, quem estivesse em dificuldades financeiras. Colocava o saco com moedas de ouro a ser ofertado na chaminé das casas. Foi declarado santo depois que muitos milagres lhe foram atribuídos. Sua transformação em símbolo natalino aconteceu na Alemanha e daí correu o mundo inteiro.

São Nicolau de Mira (também conhecido como são Nicolau de Bari) é o santo padroeiro da Rússia, da Grécia e da Noruega. É o patrono dos guardas noturnos na Armênia e dos coroinhas na cidade de Bari, na Itália, onde estariam sepultados seus restos.

É aceito que São Nicolau, bispo de Mira, seja proveniente de
Petara, na Ásia Menor (Turquia), onde teria nascido na segunda metade do século III, e falecido no dia 6 de dezembro de 342.

Sob o império de
Diocleciano, Nicolau foi encarcerado por recusar-se a negar sua fé em Jesus Cristo. Após a subida ao poder de Constantino, Nicolau volta a enfrentar oposição, desta vez da própria Igreja. Diante de um debate com outros líderes eclesiásticos, Nicolau levanta-se e esbofeteia um de seus antagonistas. Isso o impede de permanecer como um líder da Igreja. Nicolau, porém, não se dá por vencido e permanece atuante, prestando auxílio a crianças e outros necessitados.

A ele foram atribuídos vários milagres, sendo daí proveniente sua popularidade em toda a Europa e sua designação como protetor dos marinheiros e comerciantes, santo casamenteiro e, principalmente, amigo das crianças. De São Nicolau, bispo de Mira (Lícia) no século IV, temos um grande número de relatos e histórias, mas é difícil distinguir as autênticas das abundantes lendas que germinaram sobre este santo muito popular, cuja imagem foi tardiamente relacionada e transformada no ícone do Natal, Pai Natal (Papai Noel no Brasil) um velhinho corado de barba branca, trazendo nas costas um saco cheio de presentes.

É tido como acolhedor com os pobres e principalmente com as crianças carentes, o primeiro santo da igreja a se preocupar com a educação e a moral tanto das crianças como de suas mães.

A Igreja Ortodoxa lhe honra com a celebração litúrgica do último domingo do ano no calendário juliano. Os ritos copta e bizantino lhe dedicam grande relevo e a celebração de sua vida pastoral tem grande destaque. O calendário romano celebra o seu dia como sendo a 6 de dezembro.

Sua devoção difundiu-se na Europa quando as suas relíquias, roubadas de Mira por 62 soldados de Bari, e trazidas a salvo subtraindo-as aos invasores turcos, foram colocadas com grandes honras na catedral de Bari a 9 de maio de 1807. As relíquias eram precedidas pela fama do suposto taumaturgo e pelas coloridas lendas que cercavam sua figura.

São as lendas que o cercam que proporcionaram e aumentam a sua fama.

É contado que teria conseguido converter hereges que querendo saquear a sua igreja, lá encontrando hóstias consagradas, e, ao tocá-las, elas viraram pão. A mais famosa destas lendas conta que uma família muito pobre não tinha como custear o "dote" para casar as suas filhas. O bispo Nicolau, a noite, jogou um saco de moedas de ouro e prata para ajudar a pagar o referido "dote".

A São Nicolau é atribuído o dom de ressuscitar crianças em sua região (Mira), hoje a localidade de
Demre na Turquia. Muitas são as histórias sobre supostas aparições suas; a mais famosa foi no Natal de 1583, na Espanha, quando atendendo as orações de algumas senhoras, teria auxiliado para que nenhum pobre deixasse de receber o seu pão bento. Os pobres, ao serem perguntados sobre a quem lhes teria dado alimento em meio a um "tão pesado inverno", estes teriam dito que foram socorridos por "um senhor de feições muito serenas e mãos firmes".

São estas lendas religiosas e a sua iconização como Papai Noel que fazem Nicolau de Mira ser muito conhecido, mas são também a razão de não termos uma visão clara sobre a vida do mesmo.

São Nicolau é igualmente padroeiro dos estudantes. E nessa condição é cultuado em
Guimarães, Portugal. Pelo menos desde 1664 (ano da construção da Capela de São Nicolau) que existem indícios da realização das festas em sua honra, pelos estudantes daquela cidade, também chamados de nicolinos. Estudantes que pouco mais tarde, em 1691, constituíram a Irmandade de São Nicolau, nessa data tendo aprovado os seus estatutos.

Em honra a São Nicolau, padroeiro dos estudantes, realizam-se em Guimarães as Festas Nicolinas, uma das mais antigas celebrações académicas do Mundo, que têm início no dia 29 de Novembro e têm como seu dia mais importante, precisamente o dia 6 de Dezembro (antigo dia dedicado a São Nicolau, por ser o dia do seu falecimento), em que se realizam as Maçãzinhas, número nicolino claramente inspirado na lenda de São Nicolau que salvou as filhas de um estalajadeiro.

O culto de São Nicolau é próprio dos países da Europa Central, conhecendo em Guimarães (Portugal), também a sua implantação na Península Ibérica.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Motu Proprio (Summorum Pontificum)


CARTA APOSTÓLICA
EM FORMA DE MOTU PROPRIO

BENTO XVI

SUMMORUM PONTIFICUM

Sempre foi preocupação dos Sumos Pontífices até o tempo presente, que a Igreja de Cristo ofereça um culto digno à Divina Majestade "para louvor e glória de seu nome" e "para nosso bem e o de toda sua Santa Igreja".
Desde tempos imemoriais até o futuro deve ser respeitado o princípio "segundo o qual cada Igreja particular deve estar de acordo com a Igreja universal não só sobre a doutrina da fé e os sinais sacramentais, mas nos usos universalmente transmitidos pela tradição apostólica contínua. Estes devem manter-se não só para evitar os enganos, mas também para que a fé seja transmitida em sua integridade, já que a regra de oração da Igreja (lex orandi) corresponde a sua regra da fé (lex credendi)." (1)


Entre os Pontífices que expressaram tal preocupação destacam os nomes de São Gregório Magno, quem se preocupou com a transmissão aos novos povos da Europa tanto a fé Católica como os tesouros do culto e a cultura acumulados pelos romanos durante os séculos precedentes. Temos instruções para a forma da Sagrada Liturgia tanto do Sacrifício da Missa como do Ofício Divino tal como eram celebrados na Cidade. Ele fez grandes esforços para promover monges e monjas, que militavam sob a Regra de São Bento, em todo lugar junto com a proclamação do Evangelho para que suas vidas igualmente exemplificassem aquela tão saudável expressão da regra "Nada, pois, antepor-se à Obra de Deus" (capítulo 43). Desta maneira a Sagrada liturgia segundo a maneira romana fez fértil não só a fé e a piedade, mas a cultura de muitos povos. Mais ainda é evidente que a Liturgia Latina em suas diversas formas estimulou a vida espiritual de muitíssimos Santos em cada século da Era Cristã e fortalecido na virtude da religião a tantos povos e fazendo fértil sua piedade.

Entretanto, com o fim que a Sagrada Liturgia possa de modo mais eficaz cumprir com sua missão, muitos outros Romanos Pontífices no curso dos séculos vieram a expressar particular preocupação, entre eles São Pio V é eminente, quem com grande zelo pastoral, segundo a exortação do Concílio de Trento, renovou o culto em toda a Igreja, assegurando a publicação de livros litúrgicos corrigidos e "restaurados segundo as normas dos Pais" e os pôs em uso na Igreja Latina.


É evidente que entre os livros litúrgicos de Rito Romano o Missal Romano é eminente. Nasceu na cidade de Roma e gradualmente ao longo dos séculos tomou formas que são muito similares a aquelas em vigor em recentes gerações.


"Este mesmo objetivo foi açoitado pelos Romanos Pontífices ao longo dos séculos seguintes, assegurando a colocação em dia, definindo os ritos e os livros litúrgicos, e empreendendo, do começo deste século, uma reforma mais geral". (2) Foi desta forma em que atuaram nossos Predecessores Clemente VIII, Urbano VIII, São Pio X (3), Bento XV, Pio XII e o Beato João XXIII.


Mais recentemente, entretanto, o Concílio Vaticano Segundo expressou o desejo de que com o devido respeito e reverência pela divina liturgia esta fora restaurada e adaptada às necessidades de nossa época.


Impulsionado por este desejo, nosso Predecessor o Sumo Pontífice Paulo VI em 1970 aprovou para a liturgia da Igreja Latina livros restaurados e parcialmente renovados, e que ao redor do mundo foram traduzidos em diversas línguas vernáculas, foram acolhidos pelos Bispos e pelos sacerdotes e fiéis. João Paulo II revisou a terceira edição típica do Missal Romano. Desta maneira os Romanos Pontífices atuaram para que "este edifício litúrgico, por assim dizer,...volte outra vez a aparecer esplêndido em sua dignidade e harmonia". (4)


Entretanto, em algumas regiões, um número não pequeno de fiéis estiveram e permanecem aderidos com tão grande amor e afeto às formas litúrgicas prévias, e imbuíram profundamente sua cultura e espírito, que o Sumo Pontífice João Paulo II, movido pela preocupação pastoral por estes fiéis, em 1984 mediante um indulto especial Quattuor abhinc annos, desenhado pela Congregação para a Liturgia Divina, outorgou a faculdade para o uso do Missal Romano publicado por João XXIII em 1962; enquanto que em 1988 João Paulo II uma vez mais, mediante o Motu Proprio Ecclesia Dei, exortou aos Bispos a fazer um uso mais amplo e generoso desta faculdade em favor de todos os fiéis que o solicitem.


Tendo ponderado amplamente os insistentes pedidos destes fiéis a nosso Predecessor João Paulo II, tendo escutado também os Padres do Consistório de Cardeais realizado em 23 de março de 2006, tendo sopesado todos os elementos, invocado o Espírito Santo e pondo nossa confiança no auxílio de Deus, pela presente Carta Apostólica, DECRETAMOS o seguinte:

Art. 1. O Missal Romano promulgado por Paulo VI deve ser considerado como a expressão ordinária da lei da oração (lex orandi) da Igreja Católica de Rito Romano, enquanto que o Missal Romano promulgado por São Pio V e publicado novamente pelo Beato João XXIII como a expressão extraordinária da lei da oração ( lex orandi) e em razão de seu venerável e antigo uso goze da devida honra. Estas duas expressões da lei da oração (lex orandi) da Igreja de maneira nenhuma levam a uma divisão na lei da oração (lex orandi ) da Igreja, pois são dois usos do único Rito Romano.

Portanto, é lícito celebrar o Sacrifício da Missa de acordo com a edição típica do Missal Romano promulgado pelo Beato João XXIII em 1962 e nunca anulado, como a forma extraordinária da Liturgia da Igreja. Estas condições estabelecidas pelos documentos prévios Quattuor abhinc annos e Ecclesia Dei para o uso deste Missal são substituídas pelas seguintes:

Art. 2. Em Missas celebradas sem o povo, qualquer sacerdote de Rito Latino, seja secular ou religioso, pode usar o Missal Romano publicado pelo Beato João XXIII em 1962 ou o Missal Romano promulgado pelo Sumo Pontífice Paulo VI em 1970, qualquer dia exceto no Sagrado Tríduo. Para a celebração segundo um ou outro Missal, um sacerdote não requer de nenhuma permissão, nem da Sé Apostólica nem de seu Ordinário.

Art. 3. Se Comunidades ou Institutos de Vida Consagrada ou Sociedades de Vida Apostólica de direito pontifício ou diocesano desejam ter uma celebração da Santa Missa segundo a edição do Missal Romano promulgado em 1962 em uma celebração conventual ou comunitária em seus próprios oratórios, isto está permitido. Se uma comunidade individual ou todo o Instituto ou Sociedade desejam ter tais celebrações freqüente ou habitualmente ou permanentemente, o assunto deve ser decidido pelos Superiores Maiores segundo as normas da lei e das leis e estatutos particulares.

Art. 4. Com a devida observância da lei, inclusive os fiéis Cristãos que espontaneamente o solicitem, podem ser admitidos à Santa Missa mencionada no art. 2.

Art. 5, § 1. Em paróquias onde um grupo de fiéis aderidos à prévia tradição litúrgica existe de maneira estável, que o pároco aceite seus pedidos para a celebração da Santa Missa de acordo ao rito do Missal Romano publicado em 1962. Que o pároco vigie que o bem destes fiéis esteja harmoniosamente reconciliado com o cuidado pastoral ordinário da paróquia, sob o governo do Bispo e segundo o Canon 392, evitando discórdias e promovendo a unidade de toda a Igreja.

§ 2. A celebração segundo o Missal do Beato João XXIII pode realizar-se durante os dias de semana, enquanto que aos Domingos e dias de festa deve haver só uma destas celebrações.

§ 3. Que o pároco permita celebrações desta forma extraordinária para fiéis ou sacerdotes que o peçam, inclusive em circunstâncias particulares tais como matrimônios, funerais ou celebrações ocasionais, como por exemplo peregrinações.

§ 4. Os sacerdotes que usem o Missal do Beato João XXIII devem ser dignos e não impedidos canonicamente.

§ 5. Nas Igrejas que não são nem paroquiais nem conventuais, é o Reitor da Igreja quem concede a permissão acima mencionada.

Art. 6. Nas Missas celebradas com o povo segundo o Missal do Beato João XXIII, as Leituras podem ser proclamadas inclusive nas línguas vernáculas, utilizando edições que tenham recebido a recognitio da Sé Apostólica.

Art. 7. Onde um grupo de fiéis laicos, mencionados no art. 5§1 não obtém o que solicita do pároco, deve informar ao Bispo diocesano do fato. Ao Bispo lhe solicita seriamente aceder a seu desejo. Se não puder prover este tipo de celebração, que o assunto seja referido à Pontifícia Comissão Ecclesia Dei.

Art. 8. O Bispo que deseje estabelecer provisões para os pedidos dos fiéis laicos deste tipo, mas que por diversas razões se vê impedido de fazê-lo, pode referir o assunto à Pontifícia Comissão "Ecclesia Dei", que deveria proporcionar conselho e ajuda.

Art. 9, § 1. Da mesma forma um pároco pode, uma vez considerados todos os elementos, dar permissão para o uso do ritual mais antigo na administração dos sacramentos do Batismo, Matrimônio, Penitência e Unção dos Enfermos, conforme sugira o bem das almas.

§ 2. Concede-se aos Ordinários a faculdade de celebrar o sacramento da Confirmação utilizando o anterior Missal Romano, conforme sugira o bem das almas.

§ 3. É lícito para sacerdotes em sagradas ordens usar o Breviário Romano promulgado pelo Beato João XXIII em 1962.

Art. 10. É lícito que o Ordinário local, se o considerar oportuno, erija uma paróquia pessoal segundo as normas do Canon 518 para as celebrações segundo a forma anterior do Rito Romano ou nomear um reitor ou capelão, com a devida observância dos requisitos canônicos.

Art. 11. Que a Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, ereta em 1988 por João Paulo II, (5) siga levando adiante sua função. Esta Comissão deve ter a forma, tarefas e normas de ação que o Romano Pontífice deseje atribuir.

Art. 12. A mesma Comissão, em adição às faculdades das que atualmente goza, exercerá a autoridade da Santa Sé para manter a vigilância sobre a observância e aplicação destas disposições.

Tudo o que é decretado por Nós mediante este Motu Proprio, ordenamos que seja assinado e ratificado para ser observado a partir de 14 de Setembro deste ano, festa da Exaltação da Santa Cruz, em que pese a todas as coisas em contrário.


Dado em Roma, junto a São Pedro, em 7 de julho no Ano do Senhor de 2007, Terceiro de nosso Pontificado.


BENTO XVI

__________________________
*Tradução não-oficial, somente a versão em latim pode ser considerada como original

NOTAS

1 Instrução Geral do Missal Romano, terceira edição, 2002, N. 397
2 Papa João Paulo II, Carta Apostólica Vicesimus quintus annus, 4 de Dezembro de 1988, N. 3: AAS 81 (1989) P. 899.
3 Ibidem.
4 O Papa São Pio X, Motu Proprio Abhinc duos annos, 23 de Outubro de 1913: AAS 5 (1913) 449-450; cf. O Papa João Paulo II, Ap. Carta Vicesimus quintus annus, 4 Dezembro de 1988,11. 3: AAS 81 (1989) P. 899.
5 Cf. O Papa João Paulo II, Motu proprio Ecclesia Dei adflicta, 2 de Julho de 1988, N. 6: AAS 80 (1988) P. 1498.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Brasão de Sua Santidade Bento XVI

Brasão do Papa Bento XVI
Escudo eclesiástico. Campo de goles com uma Vieira de jalde, mantelado de jalde, tendo à destra uma cabeça de mouro de sable, embocada, coroada e ornada de goles e, à senextra, um urso de sable armado e lampassado de goles, carregado de um fardo de argente, cinturado de sable. O escudo está assente em tarja branca, na qual se encaixa o pálio papal (omofório) branco com cruzetas de goles. O conjunto pousado sobre duas chaves decussadas, a primeira de jalde e a segunda de argente, atadas por um cordão de goles, com seus pingentes. Quando são postos tenentes, estes são dois anjos de carnação, sustentando cada um, na mão livre, uma cruz trevolada tripla, de jalde.

Brasão Cardinalício de Joseph Ratzinger.

O escudo obedece às regras heráldicas para os eclesiásticos. Os esmaltes: goles (vermelho) e jalde (ouro) são as cores de Roma: ouro e sangue. O campo de goles (vermelho) simboliza o fogo da caridade inflamada no coração do Soberano Pontífice pelo Divino Espírito Santo, que o inspira diretamente no governo supremo da Igreja, bem como valor e o socorro aos necessitados, que o Pai espiritual de todos os cristãos deve dispensar aos seus filhos. A Vieira (concha) tem três significados: o primeiro, de cunho teológico, recorda a passagem de Santo Agostinho, que, encontrando um jovem na praia, que com uma concha procurava pôr toda a água do mar num buraco cavado na areia, lhe perguntou o que fazia; e, tendo obtido a resposta, explicou-lhe a sua vã tentativa, e, assim, Santo Agostinho compreendeu a referência ao seu inútil esforço de procurar fazer entrar a infinidade de Deus na limitada mente humana. Está aí expresso um convite ao conhecimento de Deus, mesmo se na humildade da incapacidade humana.

O segundo significado da Vieira, já há séculos usado, é o do peregrino, simbolismo que Bento XVI quer manter vivo, no seguimento das pegadas do Papa João Paulo II, grande peregrino em todas as partes do mundo. E, por último, a Vieira também o símbolo presente no brasão do antigo mosteiro beneditino de Schotten, perto de Ratisbona, na Baviera, ao qual o Papa se sente espiritualmente muito ligado. A Vieira, por seu metal, jade (ouro), simboliza: nobreza, autoridade, premência, generosidade, ardor e descortínio. A partição em mantel , em italiano chamada "cappa", é um símbolo de religião, indicando um ideal inspirado na espiritualidade monástica, e mais tipicamente na beneditina. Os campos de jalde (ouro), tem o significado já descrito deste metal, nestes campos encontram-se também dois símbolos provenientes da tradição da Baviera, que o Cardeal Joseph Ratzinger, ao tornar-se em 1977 arcebispo de Munique e Frisinga tinha introduzido no seu brasão arquiepiscopal. À dextra, a cabeça de mouro, com lábios, coroa e colar vermelhos, é o antigo símbolo da diocese de Frisinga, que surgiu no século VIII, tornando-se arquidiocese com o nome de Munique e Frisinga em 1818, depois da Concordata entre o Papa Pio VII e o rei Maximiliano José, da Baviera, em 5 de Junho de 1817.

A cabeça de mouro, na tradição bávara é muito freqüente, sendo denominada caput ethiopicum, ou mouro de Frisinga. À senestra, o urso, de cor, que carrega no seu dorso um fardo, relembra uma antiga tradição que o primeiro bispo de Frisinga, São Corbiniano, tendo-se posto em viagem a cavalo rumo a Roma, ao atravessar uma floresta foi atacado por um urso, que lhe devorou o cavalo; contudo, ele conseguiu não só aplacar o urso, mas carregar nele a sua bagagem fazendo-se acompanhar por ele até Roma.

A fácil interpretação da simbologia quer ver no urso domado pela graça de Deus o próprio bispo de Frisinga, e costuma ver no fardo o peso do episcopado por ele carregado. O urso, por sua cor, de sable (preto) simboliza: sabedoria, ciência, honestidade e firmeza e a carga, por seu metal argente (prata), traduz: inocência, castidade, pureza e eloqüência. Os elementos externos do brasão expressam a jurisdição suprema do papa. As duas chaves "decussadas", uma de jalde (ouro) e a outra de argente (prata) são símbolos do poder espiritual e do poder temporal. E são uma referência do poder máximo do Sucessor de Pedro , relatado no Evangelho de São Mateus, que narra que Nosso Senhor Jesus Cristo disse a Pedro: "Dar-te-ei as chaves do reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra, será desligado no céu" (Mt 16, 19). Por conseguinte, as chaves são o símbolo típico do poder dado por Cristo a São Pedro e aos seus sucessores.

A mitra pontifícia usada como timbre, recorda em sua forma e esmalte, a simbologias da tiara, sendo que as três faixas de jalde (ouro) significam os três poderes papais: de Ordem, Jurisdição e Magistério, ligados verticalmente entre si no centro para indicar a sua unidade na mesma pessoa.

O pálio papal (omofório), muito usado nas antigas representações papais, simboliza ser o papa pastor universal do rebanho que lhe foi confiado por Cristo. O listel tira seu lema da aspiração e do programa pessoal de vida do Papa Bento XVI que é o compromisso incondicional com a verdade, numa referência à passagem evangélica: "Seja o vosso 'sim' sim, e o vosso 'não' não. O que passa disso vem do Maligno" (Cf. Mt 5,37) e ainda a proclamação de que somente Nosso Senhor Jesus Cristo é o "Caminho, a Verdade e a Vida" (Cf. Jo 14,6)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Seminário de São José da Arquidiocese de Niterói

Vista atual do Palacete do Seminário

A antiga sede da Fazenda da Soledade abrangia grande extensão de terras nos bairros de São Lourenço e do Fonseca. Foi construída para residência de Francisca Elisa Xavier (1786-1855), nascida em Pati do Alferes, e casada, em 1804, com João Carlos Torres Moraes , Barão de Soledade. Depois da morte do Barão, sua viúva assumiu a administração da fazenda, situação esta que durou pouco tempo, sendo a propriedade vendida ao Comendador José Duarte Galvão Júnior, que foi vereador e presidente da Câmara Municipal e filho do Barão de Sapucaia, Manoel Antônio Ayrosa.

O palacete encontra-se implantado no alto de uma pequena elevação, descortinando uma ampla paisagem do bairro de São Lourenço. Trata-se de uma edificação datada de 1844, sob risco do arquiteto italiano Antonio Forchini, de caráter neoclássico, com algumas modificações posteriores de cunho eclético classicizante. Possui características de uma arquitetura urbana construída em área rural. A edificação compacta apresenta traços de inspiração na arquitetura renascentista italiana, construída sobre porão alto.
O palacete tem uma composição marcada por forte simetria em todas as suas fachadas. O corpo central possui, no pavimento térreo, o acesso principal precedido por uma escada de convite; quatro janelas, dispostas duas a duas, ladeiam essa porta. No pavimento superior, cinco janelas francesas se abrem para um pequeno balcão sacado e corrido. Todos os vãos do pavimento térreo possuem cercadura de granito, com arco pleno; no piso superior, as vergas são retas com sobrevergas de pequenos frontões triangulares, sustentados por mísulas. Estas sobrevergas, provavelmente, são de colocação posterior, já que rompem com a elegância da composição. A fachada principal se completa com a presença de dois corpos dispostos simetricamente, contendo, cada, duas janelas por pavimento. Todo o prédio é encimado por entablamento, platibanda e um frontão triangular situado na fachada principal. Pilastras e cunhais de massa com capitéis nas ordens clássicas arrematam a composição.

Em 23 de outubro de 1897, os proprietários cederam o palácio e as terras em seu entorno ao recém-criado Bispado de Niterói. No inicio do século XX, o padre Agostinho Francisco Benassi, bispo da cidade, fundou o Seminário São José, o qual funcionou, inicialmente, em sua casa e, depois, foi transferido para o velho Solar Soledade.


Brasão do Seminário de São José da Arquidiocese de Niterói

O Seminário de São José é a instituição responsável pela formação do Clero secular desde 11 de Janeiro de 1909 e em 11 de Janeiro de 2009 o Seminário vai comemorar o seu centenário.
Na foto Mons. Osvaldo, Pe. Allan de Menezes Chagas, Vice-Reitor do Seminário de São José, Sua Exelência Reverentíssima D. Frei Alano Maria Pena O.P, Arcerbispo de Niterói e Pe. Wellington Dahan dos Santos, Reitor do Seminário da Arquidiocese de Niterói.